ex-combatente

O futebol português sofre de um nítido caso de dois pesos e duas medidas. É mais ou menos como o anti-herói do clássico de Robert Stevenson, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, ou o personagem de banda-desenhada que dá pelo nome de Hulk. Ora, tal como o Dr. Jekyll e o Hulk aprenderam depois de alguns embaraços públicos, ter dois pesos e duas medidas é um pesadelo na hora de saber o que vestir antes de sair de casa. Aquilo que serve na perfeição num determinado momento, pode ficar muito apertado no instante seguinte e, no limite, deixar as partes marotas à mostra de toda a gente. O futebol português também é assim. O que algumas equipas vestem com orgulho é o mesmo que deixa outras de tanga. A algumas equipas, por exemplo, o segundo lugar no campeonato assenta como uma luva, a outras fica muito justinho, deixando as vergonhas ao léu; para as primeiras, como é evidente, é muito bom, para as segundas, é um embaraço. A umas equipas, os quartos-de-final da Liga dos Campeões servem como se tivessem sido feitos no alfaiate de encomenda, a outras, encaixam como um fio dental no traseiro inflamado de um babuíno peludo. Para as primeiras, chega perfeitamente; para as segundas é um desconforto e uma vergonha. Por outro lado, para a maior parte das equipas, a hipótese de ganhar o campeonato e a Taça de Portugal na mesma época é um exagero, assim como vestir calções por cima de calças. Para outras, é fato-macaco. Para o FC Porto, por exemplo, é roupa de todos os dias, como aquelas calças de ganga confortáveis e a camisa de algodão que já começa a ficar coçada no pescoço. É banal, o que justifica a indiferença que tem rodeado essa possibilidade nos últimos dias. Se fosse outra equipa, talvez se justificassem alguns directos, um ou dois inquéritos de rua, meia dúzia de debates sobre o estado da Nação e um especial da Praça da Alegria. Sendo assim, o melhor é não dizer nada. Pode ser que dê para esquecer... in O Jogo

Posted by Anónimo on terça-feira, abril 11, 2006 at 04:56 | Permalink